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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Defendendo Brüno?

Pensar não faz mal

Difícil dizer o que Brüno significa. O filme parece mais feito para ser discutido do que assistido. O diretor Larry Charles e os produtores (que incluem o próprio ator Sacha Baron Cohen) parecem ter criado um personagem do tipo "A praça é nossa" ou "Zorra total", um gay totalmente estereotipado de quem absolutamente ninguém poderia gostar. O comportamento de Brüno é apelativo (exageraram na pornografia, né?) e ele consegue ser mais egocêntrico do que o Melvin Udall (Jack Nicholson) de "Melhor é Impossível". Mas quem faz um filme desse tipo, do qual não se espera que pessoa alguma goste, pode estar querendo dizer algo.

Brüno não é detestável por ser gay. Ele também seria detestável se fosse negro, muçulmano, cristão, chinês, alienígena, etc. O que ele mostra é um egocentrismo implacável a ponto de comprar (pelo correio) uma criança africana para supostamente se parecer a alguns atores de Hollywood que adotaram crianças da África. Ele consegue ofender cada um dos grupos étnicos, religiosos, sexuais, etc que encontra pelo caminho. Porque é gay? Não. Ele ofende porque descaradamente tenta usá-los como trampolim para a própria fama. Brüno tenta usar todos que vê pela frente. Será que ele seria tão detestável se fixasse sua atenção em um só grupo? De repente ele poderia ter mais sucesso se insistisse alguns anos como estilista de ternos de velcro... Mais um ponto para Brüno, de quem nem os estilistas escaparam.

Penso que, do seu jeito, Brüno personifica vários personagens com os quais convivemos. Ou pelo menos os norte-americanos. Estilistas que criam roupas incabíveis para se usar, atores que tentam aparecer mais que o seu personagem, entrevistadores que não questionam e não escutam os entrevistados, modelos que usam apelativos sexuais ao invés da beleza, pacificadores que não cansam de mostrar seus "bons atos" em campanha política, e por aí vai. Alguém já viu isso? De uma forma escrachada, Brüno é um tipo de Frankenstein feito ao contrário, isto é, com as piores partes de muita gente que estamos acostumados a ver e achar bonito.

Um dos pilares da propaganda é mostrar um detalhe bonito para que achemos o todo bonito. Aquele ator é caridoso, então deve interpretar bem. Aquela mulher tem belos seios, então deve ser boa atriz. Aquele político tenta resolver conflitos dos outros, então deve ser bom administrador. Aquele estilista grita em público, então deve fazer boas roupas. Brüno escandaliza ao juntar tudo isso, e daí não tem como alguém gostar dele. O filme, claro, é ruim. Mas nunca sem sentido.



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