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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Um homem sério

FILME ESTRANHO

Tem gente que chama isso de super-cult. Para mim é simplesmente estranho. O filme começa com uma cena de mistério à parte da estória, que não se resolve. Um fantasma que sangra ou um velho que não sente dor? Uma coisa é certa: a esposa é a única que faz algo. O marido aceita qualquer coisa, seja fantasma ou não.

O que fica claro é que se trata de um filme sobre a comunidade judaica, talvez um filme criticando ela. Para quem é de fora, isso não fica claro, mas vele a pena ver para conhecer como era essa comunidade em 1947. Para um judeu, talvez seja escandalizador. Depois da inexplicável cena do fantasma, o resto da estória vai por essa linha. Muita coisa não se explica, só se tenta aceitar. Tem gente que fala que o filme é baseado no Livro de Jó. Discordo: o Livro de Jó tem propósito bem claro, no filme isso é muito questionável. O que o chefe de Larry Gopnik quer dizer com a insinuações que faz? Ele vai do nada a lugar algum, ao longo do filme, parece que só para estragar a pouca felicidade de Larry a troco de nada.

Em termos técnicos, o filme é excelente. Fotografia, ambiente social, atores, tudo genial. O enredo é um mistério. Quem fica procurando um propósito, uma trama maior onde tudo se explique, talvez não encontre. Quase todos os personagens são propositadamente previsíveis, talvez seja essa a lógica do filme: somente Larry e o filho fazem alguma coisa por conta própria. Todos os demais personagens parece que receberam um script bem pequeno, com um parágrafo só, dizendo "Faça isso assim e assim, a toda hora, em qualquer ocasião". Os rabinos, que deveriam orientar a comunidade: um se dedica a olhar o estacionamento, outro conta casos estranhos, enquanto "o grande rabino" fica eternamente pensando e bate papos curtos com garotos que realizam o B'nai Mitzvá (lê-se Bar Mitzváh). O vizinho de Larry: sua ocupação é jogar a bola de beisebol para o filho e pegar ela quando ele joga de volta, o dia todo. Para descansar, ele caça veados. O cunhado de Larry: talvez ele sofra de esquizofrenia - seu papel é ficar no banheiro ou rabiscando um suposto código secreto num caderno. Para quebrar a monotonia, ele se envolve em todo tipo de reprovação moral, como espionagem (estamos em 1947!), bebidas, prostituição, etc e sempre é trazido de volta por policiais. A esposa de Larry: seu papel é praticar um tipo de "bullying" ridicularizador do marido. Nisso, ela é auxiliada por sua contraparte, um vizinho que faz as piores coisas, sempre é educado e fala com Larry como se fosse seu melhor amigo. Ele é o estereótipo descarado da diferença entre o fazer e o falar. O garoto fortão: seu papel é correr atrás do filho de Larry. Nunca pega, mas sempre corre atrás, talvez emagreça assim. A filha de Larry: seu papel é lavar o cabelo e se enfeitar para sair. A vizinha: seu papel é seduzir Larry e fumar maconha, só isso.

A estória que junta essa gente toda é o desmoronamento completo da vida de Larry: emprego, família, status social, dinheiro, daí talvez citarem o Livro de Jó. Mas pára aí a semelhança: nada se resolve na vida de Larry, o filme simplesmente acaba, depois que apresenta todos os personagens, com ele sonhando formas de resolver seus problemas. O filho vai ao Bar Mitzváh completamente fumado, recobra seu rádio do rabino, volta a ouvir música enquanto o professor de hebraico fala feito a célebre professora do Charlie Brown. Vem um furacão? Talvez, nem isso fica claro.

Enquanto Larry e o filho navegam pelos problemas da vida criados pelos outros personagens, nada mais acontece. Talvez seja uma crítica da comunidade judaica, talvez seja uma crítica de 1947 e seus óculos pretos, talvez seja mais um sapato na moldura.



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